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Mensagens

A mostrar mensagens de 2011

O que tem o The Godfather de tão intemporal?!

A saga cinematográfica “O Padrinho” (falo apenas das Partes I e II) possui uma qualidade indizível. Tem propriedades que lhe conferem uma intemporalidade invulgar na história do cinema. É para mim, pessoalmente, um filme de fascínio que consigo reviver a cada visionamento caseiro. Perceber este apelo perdurante é algo que sempre tentei fazer, mas de forma intuitiva e desorganizada. Vou tentar pôr alguma ordem nesses misteriosos estímulos enumerando alguns deles : identificação/repulsa Somos tão fortemente atraídos para o mundo das personagens que mal reparamos que nós/eles passaram determinada fronteira de comportamento socialmente aceitável. Estamos sempre perante a ambivalência de ver acções que parecem justificadas pelo contexto social em que acontecem mas que, de alguma forma, sancionamos moralmente, com maior ou menor grau de consciencialização. Ambos os filmes permitem às plateias participarem em acções proibidas e tirar daí fruição mas sempre na instável e perturbante fronteira

Estreia de "Natália, a Diva Tragicómica" - (2011, RTP/Real Ficção)

Estreou este sábado dia 26 o meu filme "Natália, a Diva Tragicómica" na RTP2. Deixo-vos a sinopse e o trailer: Sinopse Uma cantora lírica canta, num registo indisciplinado, em diversas aparições televisivas. É Natália de Andrade. Natália sente-se incompreendida na sua grandeza porque ela é, afinal, maior do que Maria Callas! Há mais divas iludidas pelo mundo fora mas nenhuma é como ela. Mas quem foi esta mulher? No seu diário confessa que teve uma infância infeliz: as zangas entre o pai e a mãe eram constantes e a música tornou-se desde pequena o seu refúgio da tristeza...À sua volta criou-se um culto, com variações: o público conhece-a como eco de uma imitação humorística, músicos eruditos como um objecto de fascínio. Mas esse culto assenta na personagem Natália, conhecer a pessoa nunca foi prioridade. Trailer NATÁLIA, A DIVA TRAGICÓMICA from Real Ficção on Vimeo . O filme será projectado no Museu do Fado no dia 6 de Dezembro pelas 21:30 e será seguido de um debate, às 22:

Cronenberg e Elenco de "Cosmopolis" - Master Class Estoril Filme Festival 2011

Deixo-vos com o Master Class de David Cronenberg e parte do elenco do filme a estrear em 2012 "Cosmopolis". O realizador e o trabalho do actor, preferências cinéfilas e métodos de trabalho foram alguns dos temas num amena mas animada cavaqueira.

Cenas da Minha Vida nº 3 - Robert Shaw e o monólogo USS Indianapolis de Jaws

É controversa a autoria deste monólogo: entre John Milius, o argumentista, e o grande Robert Shaw, o actor que lhe dá vida. É um momento de descompressão pleno de calor, revelação e profundidade. A intimidade de Shaw com o texto é tal que se tivesse de arriscar atribuia-lhe o mérito. Uma grande cena! Um grande filme que inaugurou os blockbusters mudando a face da indústria e respectivas estrategias de marketing e distribuição. Atribulações com o pouco convincente tubarão pneumático empurraram Spielberg para a poderosa simplicidade da sugestão. Desde então não há muitos filmes que tenham chegado ao seu nível, por mais regados de dólares e pirotecnia. Momentos como esta cena ajudam a explicá-o.

Cenas da Minha Vida nº 2 - Woman Under Influence

John Cassavettes tinha um pacto com a sua parceira criativa e mulher Gena Rowlands: que, nos filmes, ambos se empurrassem ao limite e ao esgotamento. Poucas vezes o cinema mostrou, como em "A Woman under influence", a sua face mais intrinsecamente humana. Era o seu amor aos actores que o inspirava. Conhecia-os profundamente e com eles partilhava angústias, esperanças, decisões. O conteúdo sobre a forma! Algo com que me identifico profundamente. Massificaram-se os fazedores de filmes com a democratização do HD e as DSLR's e com a edição não linear para todos. Mas sob a sofisticação e os quadros lindíssimos cada vez mais à mão de semear constato que realizadores...continua a haver pouquíssimos. É uma forma de vida, não uma jeito particular. Nesta cena Gena Rowlands acorda para nos impressionar com a profunda humanidade da personagem e, para mim, nunca mais o cinema foi o mesmo.

Convidado de Honra nº 8 - David Chan Cordeiro da Mad Stunts

David Chan Cordeiro é o líder de uma das principais empresas às quais se recorre quando se quer, no cinema português, coreografar cenas de luta e de uma fisicalidade mais complexa: a Mad Stunts. Fala-nos nesta entrevista sobre a sua actividade e o impacto da mesma no contexto cinematográfico português. É uma área mitológica feita de heróis...profissionais de que pouco conhecemos no nosso cinema. É uma oportunidade para aprender. E com o melhor! Qual a importância da vossa actividade no contexto do cinema português?Como tem evoluído? A importância dos duplos no Cinema Português ainda é pequena, pela simples razão de que se faz pouca acção na nossa ficção. Conta-se pelos dedos de uma mão os filmes Portugueses que, num ano, requerem o nosso trabalho. A verdade é de que ainda somos considerados um luxo dispensável e uma vez que os orçamentos são limitados, evita-se escrever cenas com acção para manter os orçamentos baixos. Por isso é justo dizer de que a evolução tem sido lenta. De tal ma

Cenas da Minha Vida Nº1 - The Wrestler (cena final)

Darren Aronofsky reservou para a cena final o pico dramático de um filme íntegro que acompanha o irredentível Randy (ou o próprio Mickey Rourke) na sua vã tentativa de estabilização afectiva. É uma composição fortíssima a desta cena. Exemplar como a utilização das escalas e dos planos e ângulos de câmara aproveita até ao tutano o seu enorme potencial emocional. Minutos depois saía da sala de cinema (lembro-me como se fosse hoje) profundamente abananado, no melhor sentido da palavra. http://www.imdb.com/title/tt1125849/

Traição do Legado

Resisti a vê-lo enquanto nos cinemas para não estragar a minha relação estreita com o seu antecessor mas acabei por vê-lo ontem num voo longo que carecia de estímulo. A continuação de "Wall Street" com este "O Dinheiro Nunca Dorme" é a idiotice que esperava. Foi claramente o pretexto político-económico que precipitou Oliver Stone neste projecto e não, de todo, uma noção amadurecida de história e evolução das personagens. Recuperou Wall Street para denunciar os Hedge Funds, não voltou de forma pensada e coerente ao projecto. A este respeito há diálogos que são monólogos e voice overs ultra-explicativos. Stone não quis deixar pitada de fora: que toda a gente perceba o que se passa! É grosseira esta tentação de compêndio! A recuperação desleixada de uma série de elementos do filme de 87 é evidência deste facto. A fotografia, a repetição do datado split screen... A OST de Wall Street era muito 80's e David Byrne (com Brian Eno) já can

Alguns dos Filmes da Minha Vida nº 5 - Um Homem Singular

Neste soberbo filme um requintado formalismo, próprio de um fotógrafo/estilista, encontra-se com uma rara humanidade e profundidade da história e das personagens. Há "quadros" absolutamente maravilhosos, um festim sensorial, mas também momentos de pura intuição e sensibilidade. É essa sensibilidade que faz que o exercício estilístico não se sobreponha à pungente magia do seu drama. A subtileza que nos enleia com perfeição (na música e na fotografia, por exemplo) num dia de terminal angústia...a mesma subtileza que eleva Colin Firth a uma interpretação histórica, perfeita! Subtileza que Hollywood detesta: um ano depois premiaram-no pelos seus maneirismos, sempre ao gosto do tio Óscar, no anódino "Discurso do Rei"... É um filme extraordinário ao qual voltarei muitas vezes no futuro!

Documentário Português enquanto PTA não chega!!!

De português fui ver nos últimos anos pouca coisa nas nossas salas. Retrospectivando, vejo, sem surpresa, que os filmes que mais me tocaram foram documentários. Vi na mostra "Panorama" de 2010 o arrepiante potencial dramático do som combinado com a imagem estática no maravilhoso "48" ; o histórico testamento vital super sensível do filme "José e Pilar"; recentemente marcaram-me o politicamente incorrecto "Linha Vermelha" de Pedro Filipe Costa e "Quem Vai à Guerra" de Marta Pessoa, um daqueles documentos que ficará bem vivo no nosso imaginário colectivo e respectiva Torre do Tombo . O registo documental tem à partida um evidente compromisso com a realidade. É a sua vocação histórica por mais híbrido e fluida a sua fronteira com a ficção, por mais pós-moderna a sua abordagem. Obviamente que esse compromisso é sempre parcial e subjectivo. Mas a sua ressonância colectiva é potencialmente mais fina. Mas para que se ancore igualmente na noss

O Tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores

Um homem, doente em estado terminal, está focado nas suas ligações humanas primárias em fusão completa com a natureza. O espírito da sua mulher volta para cuidar dele e o seu filho, desaparecido há muito, retornando sob a estranha forma de macaco negro de olhos brilhantes. Em busca de explicações para a sua longa vida, Boonmee deambula com a família pela floresta até encontrar uma gruta onde ocorreu o seu nascimento na sua primeira vida... O tio Bonme encara a sua recta final com uma evidente serenidade. A sequência da sua morte é o momento mais forte e impressivo. A câmara está muitas vezes na subjectividade dos espíritos (ou do espectador). Vemos esta "viagem" com tempo, com a solenidade de uma recepção de estado. A cosmovisão do realizador está entre o ingénuo e o perturbador e nessa ambiguidade reside o principal interesse do filme. O trabalho do som e as sombras na escuridão na floresta é uma referência sinistra, já o conforto quase maternal que Bonmee encontra no espíri

O ensino público de cinema em Portugal - relatório pessoal

Decidido a apostar definitavamente no cinema aos 30 anos, estou numa fase em que rentabilizar o tempo é essencial. Para além dos projectos em que estou envolvido ingressei na Escola Superior de Teatro e Cinema para dar mais um passo neste percurso. Oitos meses volvidos posso dizer que o que encontrei não defrauda nem supera as minhas expectativas nem, de resto, contraria a minha experiência pessoal. A lógica tutorial e responsabilizante de Bolonha colide ainda com a cultura paternalista de que padece o nosso ensino universitário. Na ESTC temos como expoente desse espírito umas burocráticas folhas de presença controlam a assiduidade dos "meninos". Temos testes atrás de testes (teóricos): a antítese da criatividade. As próprias tutorias são muitas vezes meras imposições "despachadas" logo a seguir à aula sobretudo para suprir temas que não são "dados" no comprimido período lectivo normal. Numa inenarrável cadeira chamada "Estética" recuamos ao Kan

"O Concerto" e o poder aglutinador da música!

Andreï Filipov (Aleksei Guskov), um maestro outrora aclamado cuja carreira havia sido destruída 30 anos antes na era soviética de Brezhnev é agora um contínuo. Surge-lhe contudo a oportunidade única de conduzir novamente uma orquestra com os seus “desconcertados” ex-parceiros musiciais. No teatro Chatelet em Paris fazer-se-á passar por responsável pela célebre companhia Bolshoi e assim conseguir aproximar-se da sua filha violinista Anne-Marie Jacquet (Mélanie Laurent de Inglourious Basterds) de quem a vida se encarregou de separar. O chico-espertismo troglodita dos russos e a sofisticação franciu são explorados um pouco até ao limite da inconsequência numa componente burlesca muito Kusturica, talvez demasiado Kusturica. Nesta parte do filme arrancam-se risotas. Mas é na relação entre Anne-Marie e Andrei que o filme nos ganha. A melancolia de Melanie Laurent é uma boa escolha para uma personagem de olhos doces mas tristes e incompletos. Um dos aspectos interessantes do filme é a forma

Música Narrativa - n.º6 - Sweet Hereafter de Atom Egoyan - música de Mychel Danna

Em 1997 o prolífico canadense compositor Mychael Danna fez a música para este maravilhoso filme sobre o poder transformador da perda. É numa pequena e pacata cidade gelada que a tragédia central deste filme se passa, e o tema profundo e misterioso , como uma linda componente celta, concorre para essa ideia de micro-cosmos, uma comunidade de afectos que a dor fez diferente de todas as outras. Um filme maravilhoso. banda sonora do filme trailer do filme