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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2009

Charlie Kaufman de volta!

O grande Charlie Kaufman (Eternal Sunshine of a Spotless Mind; Adatpation...) descreve-nos as suas ideias sobre a escrita e a vida... Refere o cinema como um "media morto": se as nuances e inflexões são a quintessencia do teatro, já ao cinema, enquanto objecto estático, é-lhe exigida a introdução de camadas de informação que ofereçam diferentes experiências a cada visionamento. É essa a sua batalha e a sua singularidade. introduz-nos ao seu mais recente trabalho, Synecdoche, agora como escritor/realizador, e fala das dificuldades que este novo estatuto lhe apresentou: lutando para que o pragmatismo do realizador não espartilhasse o fluxo criativo e imaginação do escritor. Kaufman é dos mais intelectualmente desafiadores guionistas americanos. Em diversas entrevistas, como a que acabamos de ver, refere a dificuldade cultural do escritor em derrubar convenções narrativas e uma determinada e monolítica estrutura do "filme americano". Em Adaptation (um dos meus filmes p

Veneno Cura - tom negro

Personagens limite com tom negro e existencialista ou filme comercial americanado e muito mau – parece ser esta sina polarizada (egocêntrica ou publicocêntrica) do cinema português. Permanece a lacuna: filmes bons que falem ao público. Veneno Cura foca o lado sofrido e obscuro das suas desesperadas personagens sem uma noção de história. Entrega-se antes a uma pretensiosa veia negra. O tema é a filiação. A asfixia existencial que começa e acaba na maternidade. Mas a fraqueza dos diálogos e dos actores não possibilitam que a alta pretensão artística do projecto chegue a bom porto. A falta de verosimilhança não permite uma verdadeira adesão emocional ao filme. De tal forma que os momentos mais poéticos e (supostamente) impressivos do filme não marcam nem resultam (nem mesmo a interessante catarse musical da cena de ópera o consegue). Pormenor positivo é a banda sonora, bastante densa e interessante. De resto alguns esparsos momentos de algum apelo estético e sensorial é o que de menos ma

Clint Eastwood – A Idade da Sageza

Existe habitualmente associado à velhice um mito da sageza na idade. A sedimentação de certezas e uma relutante gestão da dúvida geram visões e narrativas pessoais definitivas. Costuma ser a fase, por excelência, da rejeição do provisório patente em expressões de senioridade: “já vi tudo”; “já passei por muito”. Clint Eastwood parece chegar à sua sétima década num desencanto desconstrutivista, no auge da sua frescura perceptiva, próprios de quem ainda tem muito que aprender e provar como, de resto, o afirma explicitamente em entrevistas que concede. Por esse motivo aprendi a admirar um realizador que contribuiu para a minha vida com alguns dos melhores filmes que já pude presenciar. De todas as suas pérolas, três dizem-nos bem deste Clint cartesiano disfarçado de clássico: Em Unforgiven parece assumir despudoradamente o quão longínuquo lhe soa a sua fase coboiada. O improvável trio de assassinos expõe-se nas suas fraquezas, na latência da sua relação com o passado e na fragilidade da g

CAOS Calmo

O dispositivo encontrado para o tal Caos Calmo é um pátio em que o pai, ausente no momento da morte da sua mulher, espera diariamente, em contrição, à porta da escola da sua filha que ela termine as suas aulas. É nesse pátio que uma série de interacções urbanas e impessoais se vão gradual e credivelmente estreitando. Ali tudo se passa devagar longe de um quotidiano triturador que não dá tréguas. Ali vai Moretti tentar enfrentar os seus fantasmas, digerir o fim abrupto de uma relação. Não o consegue de imediato. Encontra uma inesperada dificuldade em deixar que a tristeza se impregne. Ele luta com um “luto encravado”, uma tentativa de fuga à dor e à dureza do “seguir em frente”, criando manias e um universo pessoal de segurança – o tal pátio e a proximidade constante da filha. A excelente cena com Roman Polanski e a surpreendente atitude libertadora e comovente da filha dão, no final do filme, o mote para a aceitação da dor…como começo, como vida, como elemento vital de progresso pessoa