
De português fui ver nos últimos anos pouca coisa nas nossas salas.
Retrospectivando, vejo, sem surpresa, que os filmes que mais me tocaram foram documentários. Vi na mostra "Panorama" de 2010 o arrepiante potencial dramático do som combinado com a imagem estática no maravilhoso "48" ; o histórico testamento vital super sensível do filme "José e Pilar"; recentemente marcaram-me o politicamente incorrecto "Linha Vermelha" de Pedro Filipe Costa e "Quem Vai à Guerra" de Marta Pessoa, um daqueles documentos que ficará bem vivo no nosso imaginário colectivo e respectiva Torre do Tombo.
O registo documental tem à partida um evidente compromisso com a realidade. É a sua vocação histórica por mais híbrido e fluida a sua fronteira com a ficção, por mais pós-moderna a sua abordagem. Obviamente que esse compromisso é sempre parcial e subjectivo. Mas a sua ressonância colectiva é potencialmente mais fina.
Mas para que se ancore igualmente na nossa inter-subjectividade também a ficção deve, por mais fiel que seja a convenções universais, afirmar-se na nossa realidade. Mas o que vemos frequentemente é que essas pinceladas de portugalidade mais não são que meros artifícios de argumento raramente explorados e que visam sobretudo estimular primariamente sensações mais do que convocar sentimento ou reflexão. A nossa ficção, dita para o grande público, não é, por esse motivo, auto-reflexiva - condição essencial na minha definição pessoal de arte.
É esta noção de grande público que emperra e nos tolda e que mete o nosso cinema numa crise de identidade. Deixando de fora o também ele polémico e por vezes autista cinema de autor, é na tentativa de viabilizar comercialmente que se produz esta esquizofrenia criativa das americanadas travestidas de portuguesas. A este respeito tem sido absolutamente imperialista o conservadorismo quadrado (também ele mascarado de irreverência) que o financiamento televisivo impõe ao cinema português.
Lembro-me de coisas deprimentes como o Amigos de Alex à portuguesa em "Funeral à Chuva"; o noir pseudo-tuga "Call Girl"; também "A Bela e o Paparazo" é uma comédia romântica e de costumes que se arroga de recuperar o espírito das velha comédia portuguesa dos anos 30, etc. Poderia citar muitos outros...
Mas são biopics como "Amália" e "Salazar" e o melodrama "Fátima" o exemplo perfeito de como se tenta, na nossa cinematografia, empacotar com um laçarote icónicas figuras e aspectos complexos da nossa cultura num registo do mais plano simplismo e pronto a consumir. De português não têm absolutamente nada os filmes que citei! Não problematizam, não interrogam ou interpelam minimamente a nossa inteligência ou consciência cultural.
Valha-nos portanto a produção documental portuguesa para nos aproximar um pouco de nós próprios enquanto esperamos por um cinema comercial inspirado a la Paul Thomas Anderson!
Retrospectivando, vejo, sem surpresa, que os filmes que mais me tocaram foram documentários. Vi na mostra "Panorama" de 2010 o arrepiante potencial dramático do som combinado com a imagem estática no maravilhoso "48" ; o histórico testamento vital super sensível do filme "José e Pilar"; recentemente marcaram-me o politicamente incorrecto "Linha Vermelha" de Pedro Filipe Costa e "Quem Vai à Guerra" de Marta Pessoa, um daqueles documentos que ficará bem vivo no nosso imaginário colectivo e respectiva Torre do Tombo.
O registo documental tem à partida um evidente compromisso com a realidade. É a sua vocação histórica por mais híbrido e fluida a sua fronteira com a ficção, por mais pós-moderna a sua abordagem. Obviamente que esse compromisso é sempre parcial e subjectivo. Mas a sua ressonância colectiva é potencialmente mais fina.
Mas para que se ancore igualmente na nossa inter-subjectividade também a ficção deve, por mais fiel que seja a convenções universais, afirmar-se na nossa realidade. Mas o que vemos frequentemente é que essas pinceladas de portugalidade mais não são que meros artifícios de argumento raramente explorados e que visam sobretudo estimular primariamente sensações mais do que convocar sentimento ou reflexão. A nossa ficção, dita para o grande público, não é, por esse motivo, auto-reflexiva - condição essencial na minha definição pessoal de arte.
É esta noção de grande público que emperra e nos tolda e que mete o nosso cinema numa crise de identidade. Deixando de fora o também ele polémico e por vezes autista cinema de autor, é na tentativa de viabilizar comercialmente que se produz esta esquizofrenia criativa das americanadas travestidas de portuguesas. A este respeito tem sido absolutamente imperialista o conservadorismo quadrado (também ele mascarado de irreverência) que o financiamento televisivo impõe ao cinema português.
Lembro-me de coisas deprimentes como o Amigos de Alex à portuguesa em "Funeral à Chuva"; o noir pseudo-tuga "Call Girl"; também "A Bela e o Paparazo" é uma comédia romântica e de costumes que se arroga de recuperar o espírito das velha comédia portuguesa dos anos 30, etc. Poderia citar muitos outros...
Mas são biopics como "Amália" e "Salazar" e o melodrama "Fátima" o exemplo perfeito de como se tenta, na nossa cinematografia, empacotar com um laçarote icónicas figuras e aspectos complexos da nossa cultura num registo do mais plano simplismo e pronto a consumir. De português não têm absolutamente nada os filmes que citei! Não problematizam, não interrogam ou interpelam minimamente a nossa inteligência ou consciência cultural.
Valha-nos portanto a produção documental portuguesa para nos aproximar um pouco de nós próprios enquanto esperamos por um cinema comercial inspirado a la Paul Thomas Anderson!
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