
Fui, para conhecer um pouco este lado do cinema, ao Lisbon Talks do Indie Lisboa. O tema: produção e comercialização de filmes independentes.
É sempre bom, para alguma perda de inocência, saber como o percurso artístico de um filme se faz de uma nuvem densíssima de interacções comerciais.
Percebi que artistas como Johnnie To ("Eleição") e Pablo Trapero ("Leonera") garantiram a universalidade do seu trabalho, escapando à sentença de provincianismo, pelo recurso a agentes de representação comerciais (os mais capazes, procurados como pérolas, que deixarão na parteleira treslidos milhares de guiões e apresentações). Como a vocação de um filme pode casar ou não, para seu benefício ou fracasso comercial, com a produtora ideal e que esta terá um papel vital no itinerário festivaleiro da obra e relação com os respectivos comissários de programação. A comissária do Festival de Lugano assumiu que tão importante como ver filmes (vinha de 52 visionamentos na Turquia!) era conhecer seus criadores e ter deles um feeling (um "feeling" vejam bem;). Que nos festivais também os agentes de imprensa têm papel de relevo. Que neles todo um circo de interacções ditará uma parte do seu box office. Que chegado ao distribuidores internacionais também a química certa será essencial para o sucesso do filme. Que até ao nível das salas a viabilidade de um filme se faz: a produtora de Pedro Costa fez chegar uma cópia de "Ne Change Rien" aos Estados Unidos que numa sala apenas chegou ao top 3 nacional na relação sala/espectadores, aumentando a sua visibilidade. Há, não esquecer, que também os críticos podem mudar a história. O agente comercial que por lá passou referiu a importância da opinião das revistas "Screen" e "Variety" para as perspectivas comerciais de um filme independente e que, conhecendo os seus cronistas, tem um especial cuidado nos convites de visionamento que faz.
Desconcertante não é? Saber que alguns filmes povoarão para sempre o nosso imaginário e que obras de igual potencial mítico nunca sairão do casulo por questões desta natureza...
O Sociólogo francês Pierre Bordieu no livro "As Regras da Arte" relativizou, na análise do sector cultural, a ideia do indivíduo isolado, do génio singular e de uma universalidade das categorias que espontaneamente se utilizam para pensar, discutir e qualificar as obras intelectuais ou estéticas.
A subjectividade e a o jogo de legitimidades que difine a cotação de um artista está bem patente no campo de forças que descrevi antes: uma nebulosa teia, onde o talento e génio têm certamente lugar, mas cujo ao rótulo prévio somos vulneráveis por mais que o tentemos desconstuir: "este é bom, ganhou Cannes!"; "teve boas críticas"; "direitinho de Sundance, deve ser bem original"; "vejam a visibilidade internacional do novo cinema romeno, é lá que encontramos bom cinema" - simplismos que todos partilhamos e partilharemos por necessidades de arrumação intelectual do aletório - no cinema como na vida;)
É sempre bom, para alguma perda de inocência, saber como o percurso artístico de um filme se faz de uma nuvem densíssima de interacções comerciais.
Percebi que artistas como Johnnie To ("Eleição") e Pablo Trapero ("Leonera") garantiram a universalidade do seu trabalho, escapando à sentença de provincianismo, pelo recurso a agentes de representação comerciais (os mais capazes, procurados como pérolas, que deixarão na parteleira treslidos milhares de guiões e apresentações). Como a vocação de um filme pode casar ou não, para seu benefício ou fracasso comercial, com a produtora ideal e que esta terá um papel vital no itinerário festivaleiro da obra e relação com os respectivos comissários de programação. A comissária do Festival de Lugano assumiu que tão importante como ver filmes (vinha de 52 visionamentos na Turquia!) era conhecer seus criadores e ter deles um feeling (um "feeling" vejam bem;). Que nos festivais também os agentes de imprensa têm papel de relevo. Que neles todo um circo de interacções ditará uma parte do seu box office. Que chegado ao distribuidores internacionais também a química certa será essencial para o sucesso do filme. Que até ao nível das salas a viabilidade de um filme se faz: a produtora de Pedro Costa fez chegar uma cópia de "Ne Change Rien" aos Estados Unidos que numa sala apenas chegou ao top 3 nacional na relação sala/espectadores, aumentando a sua visibilidade. Há, não esquecer, que também os críticos podem mudar a história. O agente comercial que por lá passou referiu a importância da opinião das revistas "Screen" e "Variety" para as perspectivas comerciais de um filme independente e que, conhecendo os seus cronistas, tem um especial cuidado nos convites de visionamento que faz.
Desconcertante não é? Saber que alguns filmes povoarão para sempre o nosso imaginário e que obras de igual potencial mítico nunca sairão do casulo por questões desta natureza...
O Sociólogo francês Pierre Bordieu no livro "As Regras da Arte" relativizou, na análise do sector cultural, a ideia do indivíduo isolado, do génio singular e de uma universalidade das categorias que espontaneamente se utilizam para pensar, discutir e qualificar as obras intelectuais ou estéticas.
A subjectividade e a o jogo de legitimidades que difine a cotação de um artista está bem patente no campo de forças que descrevi antes: uma nebulosa teia, onde o talento e génio têm certamente lugar, mas cujo ao rótulo prévio somos vulneráveis por mais que o tentemos desconstuir: "este é bom, ganhou Cannes!"; "teve boas críticas"; "direitinho de Sundance, deve ser bem original"; "vejam a visibilidade internacional do novo cinema romeno, é lá que encontramos bom cinema" - simplismos que todos partilhamos e partilharemos por necessidades de arrumação intelectual do aletório - no cinema como na vida;)
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