
“Consultórios de Deus” é uma visita quase documental a um gabinete de planeamento familiar com inerentes dramas e dificuldades. A realizadora Claire Simon assume com clareza a sua dimensão realista mas, nem por isso, neutra. É documental no sentido em que a câmara assume a observação passiva e sem artifícios. Mas é uma visão engajada na medida em que mostra sem cedências a mulher como o elo mais fraco de uma cadeia de vastos problemas: disfunção familiar; constrangimentos étnicos; desequilíbrio entre géneros; preconceitos culturais… Casos e “pessoas reais” convivem neste filme com a participação de actrizes profissionais e reputadas como Anne Alvaro (vimo-la em “O Gosto dos Outros” de Agnes Jaoui). O filme ganha assim maior peso e inteligibilidade. É filmada friamente a rotina do consultório mas abordados de forma sistemática e abrangente seus temas para aumentar o seu alcance pedagógico.
É importante mostrar as histórias pessoais e emocionais por trás das estatísticas. É particularmente útil para elucidar as frágeis mentes que negam a despenalização da prática abortiva com ignóbeis argumentos de facilitismo e decadência moral. Desconstruir (de si tão frágeis) argumentos é o indesmentível mérito deste filme.
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