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Charlie Kaufman de volta!

O grande Charlie Kaufman (Eternal Sunshine of a Spotless Mind; Adatpation...) descreve-nos as suas ideias sobre a escrita e a vida... Refere o cinema como um "media morto": se as nuances e inflexões são a quintessencia do teatro, já ao cinema, enquanto objecto estático, é-lhe exigida a introdução de camadas de informação que ofereçam diferentes experiências a cada visionamento. É essa a sua batalha e a sua singularidade.



introduz-nos ao seu mais recente trabalho, Synecdoche, agora como escritor/realizador, e fala das dificuldades que este novo estatuto lhe apresentou: lutando para que o pragmatismo do realizador não espartilhasse o fluxo criativo e imaginação do escritor.



Kaufman é dos mais intelectualmente desafiadores guionistas americanos. Em diversas entrevistas, como a que acabamos de ver, refere a dificuldade cultural do escritor em derrubar convenções narrativas e uma determinada e monolítica estrutura do "filme americano". Em Adaptation (um dos meus filmes preferidos) é permanente esse diálogo entre a liberdade e as regras - a luta ao tal "media morto". Charlie Kaufman (aqui representado por Nicolas Cage) quer representar personagens densas, reais, na sua banalidade, sem twists nem epifanias...mas encontra pela frente, num seminário de guionismo, o formulaico guru Robert Mckee (brilhantemente representado pelo seu facsimile Brian Cox). O resultado é esta fantástica cena:

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