
Jeff Nichols traz-nos um olhar independente, sem restricções de economia narrativa, sobre o vazio e prisão emocionais que uma infância estragada traz. Várias cenas impressivas apenas lá estão para dar tom: de realismo e inexpressividade.Os olhos vazios e a vivência desalmada das personagens deste filme são marcantes. Cada uma delas procura um refúgio dum vazio impiedoso; a carrinha; o campo de basket; o lago e a pesca...
A história do filme é a de uma disputa familiar. Três filhos negligenciados afrontam no funeral do pai a sua memória de homem bêbedo que os deixou ao arbítrio de uma mãe odiosa. Os filhos de mesmo pai de uma relação posterior insurgem-se, gerando-se uma trágica sucessão de retaliações.
As Histórias de Caçadeira são a de uma disputa que evoca o tema western da demarcação territorial. Mas de um território emocional. O da paternidade e da importância da mesma na construção identitária do indivíduo. A auto-noção é um código primário de vida que quando ameaçado e abanado na sua fragilidade activa um certo e violento instinto de sobrevivência.
A câmara é neutra com esparsos travelings e panorâmicas. Todo o filme é totalmente vazio de artifícios. Não é a independência cool e excêntrica das personagens zombie à Wes Anderson, é uma que se radica na modorra e na sua curteza de horizontes. A música, a paisagem e a fotografia em geral e a lentidão da montagem concorrem na perfeição para a crua melancolia dos seus protagonistas.
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