
A Zona é um filme de instinto mas é igualmente um rigoroso exercício de acuidade visual. É onírico mas sensorial e táctil. Os pormenores captados: mãos; olhos; rugas; barba, são mais do que fisionómicos: de tão macro tornam-se abstractos.
A Zona pareceu-me evocar Cronenberg e a sua relação obsessiva com o corpo na sua dimensão plástica, perene e mutável. O seu realizador Sandro Aguilar, contudo, diz ter em David Lynch umas das suas principais referências. Só que se Lynch subverte a narrativa para lá do lógico (o Inland Empire já foi, para mim, para lá dos limites do suportável), neste filme a narrativa é secundária...ou pairamos sobre ela à procura de algo intangível.
É de facto um convite arrojado este feito para a Zona. Poderá instigar intriga ou desprezo; análise ou sonolência. Não existe com este filme a possibilidade de um “não gostei nem desgostei” ou o conforto de uma morna experiência domingueira. É esse o seu mérito, a sua radicalidade e inovação.
É um filme cinzento e frio. Fala de perda – uma Zona a que todos nós, por inerência de humanidade, pertence(re)mos. Fala do desconforto da dor mas do conforto que a sua universalidade nos transmite.
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