Sou um fã de Paul Auster. Como escritor e como realizador. Falando deste filme Auster citou o famoso dramaturgo e encenador Peter Brook: "I try to combine the closeness of the everyday with the distance of myth. Because, without the closeness you can’t be moved, and without the distance you can’t be amazed.“ Nenhuma citação poderia descrever tão bem o que este filme tem de belo e profundo.

Lulu on the Bridge fala, em jeito de fábula, dos travões emocionais que connosco transportamos e do desejo que deles temos em libertar-nos. Nessa busca um homem mitifica, projecta desejos - neste caso numa mulher.
Percebemos com este filme que libertação e o auto-conhecimento estão na entrega (a outra pessoa e riscos que acarreta). Sair do eu atormentado é tarefa difícil. Há algo de ambiguamente confortável na resignação, uma camada de falsos equilíbrios que aparentemente amacia o nosso quotidiano.
É uma mística pedra que Izzi encontra (elemento central do filme) que parece abrir um portal para uma ambicionada sensação de conexão. A personagem de Mira Sorvino diz, depois de a contemplar, "sinto-me ligada...a esta mesa, ao chão, ao ar desta sala...para qualquer coisa que não eu...a ti" (falando para Izzy a personagem de Harvey Keitel)
É um filme de grande humanidade. O filme dentro do filme a o desfoque do real/ficção tão ao jeito do escritor Paul Auster estão ao serviço das personagens. É muito mais do que uma desfilar técnico das possíbilidades do drama. Não é puzzle nem um ardil para os caça-metáforas. É sobre algo muito simples que observado com paixão tocará a todos que o vejam. Neste sentido faço geralmente a distinção entre o complexo e o complicado: o segundo só faz sentido servindo o primeiro.
Lulu on the Bridge é tudo menos linear mas balanceia muito bem o que tem de claro e narrativo com o que tem de aberto e entregue à leitura do espectador.
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