
A biografia de Patti é condensada e despachada nos primeiros minutos e assim se dá o mote do filme libertando-o para a abstracção.
A poesia do filme é algo encenada. A própria Patti Smith promove activamente o registo onírico, não é apenas um sujeito passivo que se deixa captar na sua intimidade.
A atmosfera de sonho, o Dream of Life, casa muito bem com a poesia da autora que pontua e contribui, declamada ou cantada, para o seu tom.
Está bem patente o grau de identificação do realizador com a artista e pessoa. A intimidade da câmara vem daí, do conforto que entre os dois se criou. Steven Sebring capta-a na sua multiplicidade. Patti assume o turbilhão espiritual que a levou de um meio rural e limitado para o mítico Chelsea Hotel em Nova Iorque. Esse turbilhão é deixado à solta numa reminiscência e associações espontâneas com que revisita o seu passado pessoal e musical.
Contudo, o seu transe musical nos tempos de hoje pareceu-me algo reciclado. Assim ao documentá-lo o filme perde (visão muito pessoal assumo-o) um pouco a sua “vertigem” Os seus discursos recentes em concerto são visivelmente mais literais e interventivos (como a tirada anti-Bush) do que os perturbadoramente introspectivos dos 70’s. O tal registo onírico e livre, por esse motivo, assenta bem melhor numas partes e parece algo forçado noutras.
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