Jude Quin (a soberba Cate Blanchet) diz a certa altura que “as pessoas que distinguem o bem do mal estão, geralmente presas em cenas”. É esta a premissa dramática do filme na minha opinião. Só as ideias resistem ao desgaste da natureza e estas são, contudo, incomunicáveis...não são dramatizáveis.
A canção de intervenção perde assim o seu propósito. Não mobiliza nem move vontades.
As pessoas estão numa luta constante contra prescrições de vida acabando por cair contraditoriamente num “certain way of life”. Assim a viagem (vida) perde o seu móbil de auto-descoberta. “De manhã à noite sou diferentes pessoas” – like a rolling stone.
A vida e a sinuosa, mas não incoerente, carreira musical de Dylan são, por este motivo, o pretexto ideal para um mosaico de alter-egos que não chega a ser concreto mas que preserva camadas de interpretação e de poesia estética. O filme é puro deleite visual. As camadas de abstracção reflectem-se na alterações de fotografia e na montagem alternada que torna difícil a leitura cronológica.
É retomada a subversão do estilo documental de Veneno e tal como em Velvet Goldmine o velado biografado é morto. Em ambos os casos parece tratar-se de uma morte mitológica. De um eterno descanso que criar algo parece vedar. A criação mutila a auto-determinação. O objecto criado é apropriado e nas suas múltiplas digestões vira-se contra o criador que, acossado, parece ter a obrigação de o validar constantemente. Para o resto da vida. “Eu só posso dizer aquilo que vocês quiserem que eu diga” é a frase de Quin (Dylan na sua fase eléctrica e pós-idealista) que revela isto mesmo.
Mas como reza a lenda Billy the Kid (Richard Gere no filme) não morreu às mãos de Pat Garret. Sobreviveu e já não de peito aberto aberta mas em guerrilha permanece disposto a lutar contra algum tipo de tirania.
Infinitas reflexões se poderiam acrescentar sobre um objecto artístico desta poesia e sensibilidade. Cinco Estrelas!
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