
Alguns (a maior parte) dos biopics não me preenchem minimamente.
Pecam (a maior parte) por simplificar, balizando vidas em plot points e defining moments claros.
A vida de um ser humano e a dramaturgia terão sempre este óbice. A primeira é demasiado complexa e incoerente para encaixar convenientemente na inteligibilidade da segunda.
Mas alguns filmes são particularmente desonestos neste particular. Entram numa diegese enciclopédica que apenas raspa a superfície. Na maior parte dos casos o que este género produz são elegias pouco críticas e poucos conseguem fugir a um manipulador tom épico.
Lembro de "La Vie en Rose" o filme biográfico de Piaf. O guionista parece ter adaptado o seu texto do correspondente artigo wikipedia, de tal maneira confirma tudo o que (pouco) sabemos sobre a sua torturada existência.
Mas alguns tomam a honesto rumo da selectividade. Preferem mostrar um segmento de vida que seja a quintessência da personagem, no que ela representou e no que ela foi como no intemporal "The Passion of Joan of Arc": mostra-la no seu mais singularmente odioso como em "Raging Bull": dar dela uma representação livre e pessoal como no extraordinário "American Splendour": ou poética e formalmente multifacetada como no libertário "I'm Not There"...
Estes são exemplos máximos da humanidade na criação cinematográfica. Pessoas que não sacrificam a "carne e osso" dos seus retratados ao síndroma de heroísmo a que tantos sucumbem.
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