
Algo se passou com Al Pacino. Quem o viu com admiração a transformar-se no zombie Corleone e sua expressão gélida e vazia já não suporta o histriónico e sobrevalorizado actor em que se transformou nas últimas décadas (não estranha que tenha tido no fraco “Perfume de Mulher” o típico Óscar fora de tempo). Também De Niro se entregou a um sem número de papeis planos. Este estado de economia artística a que chegaram tem em “A Dupla Face da Lei” o seu clímax e fica provado que a um argumento idiota e estereotipado nenhuma lenda viva pode acorrer e salvar.
O filme explora a temática dos limites morais do polícia com os instrumentos míticos fetiche: o capitão cauteloso e castrador; os internal affairs metediços e burocratas e o obrigatório psiquiatra de serviço. A deriva moral e justiceira do bom polícia é muito mal fundamentada e é um dos pormenores (porventura o mais grosseiro) que mais fere de morte a credibilidade de toda a trama. Até os diálogos e a troca de bitaites espirituosa e vernacular que dá sempre algum colorido ao género policial é altamente forçada e muito pouco convincente neste filme. Um twist final absurdo e sem ponta de sentido é a cereja num bolo bem amargo. O realizador tenta dar ao filme um tom dramático à Michael Mann (não é para todos) com protagonistas encostados às cordas na ténue fronteira entre bem e mal: o final é, de todas, a mais vã tentativa.
UD: finalmente se premeia a sua preguiça artística de décadas: Al Pacino foi finalmente nomeado para os Razies que prestigia as piores actuações do ano (e logo com duas nomeações). Por tudo quanto nos tem dado é-lhe totalmente devida tal homenagem.
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