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Notas Soltas nº 2


Les Adieux à La Reine (2012) , Benoît Jacquot– Fiquei com a sensação de nunca ter mergulhado no filme e sua atmosfera. Poderia ser o meu preconceito em relação a dramas históricos a falar mas não é claramente só isso. A escolha da “Maria Antonieta”, por exemplo, foi claramente um tiro ao lado e a subjectividade da leitora da rainha é marcada sem qualquer tipo de subtileza pela câmera e com uma inflação insuportável de premonições sobre o seu trágico destino.
 

Monterey Pop Festival (1968) , D.A. Pennebaker– Nunca vi rocumentário com tão arrepiantes actuações. Otis Redding é em particular potente. Dois anos antes de auge hippie de Woodstock e três anos antes do seu estertor em “Gimme Shelter” era esta o percursor do casamento do cinema directo com contracultura dos anos 60. Ainda ingénuo e bonito por isso.
 

Shermans March (1986) , Ross MacElwee– Muitas vezes o documentário pessoal resvala para o narcisismo inconsequente. Neste filme esse risco era acrescido com o realizador a filmar o desenrolar da sua própria vida social e amorosa. Mas assumindo a câmara como elemento estratégico de sedução romântica o realizador  transcende claramente o aparente simplismo do seu artifício base – um diário de viagem sentimental – e desbrava novos caminhos. É uma galeria de notáveis que pelo filme passa. A rever!

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