Li com interesse a recente polémica António Pedro Vasconcelos (APV)/Vasco Câmara (VC). O Primeiro luta contra o imperialismo do cinema de autor no financiamento da produção nacional e uma crítica autista e pretensiosa. O segundo respondeu arrasando qualquer mérito ao pretenso filme comercial de qualidade "A Bela e o Paparazzo".
De um lado temos a apologia feroz de um espírito comercial descomplexado no cinema português.
Levar o cinema para além da subsídio-dependência é sem dúvida um imperativo quando as taxas de consumo de produto nacional são quase recorde negativo absoluto na Europa.
Mas APV, como outros, entrincheira-se no na defesa absolutista da inteligibilidade e linearidade narrativa: filmes para o público (diz, a este propósito, ele que adorava Godard até ao momento em que se assumiu em todo o seu insuportável experimentalismo).
Há em Portugal gente ávida de chegar finalmente às massas com mensagem e conteúdo. Mas os resultados traduzem ainda uma clara crise de identidade, própria de um novo filão (o do grande público apoiado pelas televisões) que ainda adolesce. Querem seguir fórmulas e géneros falando da realidade portuguesa mas não é isso que conseguem: "Corrupção", "Amália", "Kiss me" e tantos outros...são anódinos, insossos e completamente desprovidos de conteúdo.
Filmes como "A Bela e o Paparazzo" parecem-me dar mostras, contudo, de algum avanço na técnica. Uma espécie de proto-entretenimento de qualidade que aguarda ainda a irreverência e independência de espírito que lhe dê alma (necessária no cinema de autor como no comercial). De resto críticos como Jorge Mourinha admitem abertamente a baixa bitola portuguesa para justificar a crítica favorável (3 estrelas), como quem diz "ainda assim, é do melhorzinho que se vê por aí..."
De outro lado temos os VC's de Portugal. Recalcitrantes críticos que se arrogam de um sempre elegante estatuto de desalinhado (em relação ao tal cinema comercial como ao seus colegas críticos). Vi recentemente o lindo filme "Um Homem Singular" que marca claramente o ano cinéfilo. O "rebelde" Câmara atribui-lhe 3 estrelas não percebendo que o fazendo o coloca ao nível do eficaz mas pouquíssimo ambicioso documentário "Bobby Cassidy". O seu padrão de crítica é sempre este, de uma pretensiosa e empolada independência aos cânones que me custa a suportar.
Entrincheirado segue o cinema português. Para quando um Paul Thomas Anderson por cá. Um grande e independente contador de histórias, que APV tanto elogia (mas que aos seus pés nunca conseguirá chegar).
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