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A mostrar mensagens de junho, 2010

"Bobby Cassidy" de Bruno Almeida. He could have been a contender!

Bobby Cassidy é uma personagem de enorme mística que praticamente "faz o filme" tal a vivacidade das suas histórias. É um excelente e auto-reflexivo contador de histórias que remete a realizador para um papel de mero observador. A clareza da sua auto narrativa atinge o seu pico emocional numa sofrida e sincera imitação de Brando no célebre “i could have been a contender” de “Há Lodo no Cais”. É o ponto mais alto da sua lucidez, tal é a sua clareza auto-biográfica e a assunção da sua maior mágoa: nunca ter tido uma oportunidade de competir pelo título mundial de pesos médios. O filme deixa a sua personagem mostrar-se sem artifícios- o grande mérito de Bruno Almeida. O tema do “beast in me” tão presente em filmes de pugilistmo como “Raging Bull” e “Million Dollar Baby” é sempre o apelo destas personagens trágicas que lutam contra o demónio interior que infâncias e histórias de vida disfuncionais trazem. É um documentário que funciona bem dentro das suas limitadas ambições. Porq

Somos o que Gostamos

"Eu Sou o Amor" é pura sedução! Poucos filmes combinam uma análise formalmente perfeita das personagens e suas relações (de poder e conformidade) e o universo de emoções e sensações do seu protagonista. Tilda Swinton é incrível como nos convence da sua conformidade aristocrática num primeiro momento mas também como nos mostra em doses ideiais a tensão que os eventos desencadeiam: algo de primário abala o universo e a rigidez do seu papel matriarcal. Uma série associações espontâneas tornam difusa a linha entre a realidade e a projecção mental e fazem-nos mergulhar nos recantos mais obscuros da identidade mas apenas nos sugestionando, não elucidando. É a contenção de costumes tão primorosamente mostrada no primeiro terço do filme que faz voar a libertação e exaltação dos sentidos que a chegada de um novo elemento (um cozinheiro) despoleta. Da comida, à religião, às cores e odores rurais, ao apelo cru e sem artifícios de um homem...somos levados magicamente à encruzilhada exis

O Paradoxo HBO

A série "Sexo e a Cidade" já tinha algumas das pirosices que os filmes exacerbaram como o culto do status e ostentação e uma noção parola de requinte (o namorado francês de Carrie interpretado por Barishnikov é o cúmulo). Mas tinha o mérito de legitimar a sexualidade feminina descomplexada e até feroz com Samanta Jones. Quatro amigas que se juntam a falar de sexo pelo sexo, fosse romance ou chavascal...tal qual um homem! Quanto aos filmes se o primeiro era mau, este segundo é pouco demais. É um TVShop com um arremedo de enredo. A emancipação sexual é tratada de forma estúpida e desonesta e até o sexo foi suavizado para ampliar públicos-alvo com traços de "filme da família". Curioso o paradoxo que a HBO nos apresenta e que trai o seu legado: foi incubadora, na televisão, da libertação formal e uma linguagem sem compromisso - marcadamente cinematográfica - e agora dá-nos, na sua transposição para o cinema, um produto estéril e formatado - tipicamente televisivo.

Crise de Identidade

De vez em quando vou ver cinema português. Neste caso fi-lo por diversas razões: por ser o primeiro filme estreado nas salas totalmente financiado por privados e por ter tido eu próprio uma ideia de curta metragem igualzinha a este "Funeral à Chuva" - reencontro de amizades desavindas num cenário de perda e suas inerentes e espontâneas revelações/tensões. Mas...mais uma desilusão. As personagens são banalíssimas. O gay, a actriz frustrada que se dedica a concursos televisivos, o bronco, o viajante diletante, o austero professor universitário (é mesmo esta inconsequente e exagerada personagem do mórbido bimbo da Covilhã e seu absurdo arco de libertação que mais ferem de morte este filme)... Quer ser um "Amigos de Alex" à portuguesa mas o resultado é (como sempre) bem à americana. Na realidade, as convenções de género parecem-me mal assimiladas no cinema em Portugal. Obedece-lhes mas nem as consegue concretizar. Como a maior parte do que cá se faz este filme tem a sin