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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2010

Nas Nuvens - Nascemos e Morremos Sozinhos

Fui ver o "Nas Nuvens" e fiquei deliciado! O filme debruça-se sobre o real/virtual das ligações humanas. O protagonista tem como profissão a espinhosa tarefa de comunicar habilmente despedimentos, suavizando a rutura e reduzindo gastos legais à empresa empregadora. Leva uma vida itinerante. Com ele (como no filme) o efémero é rei. A sua tarefa assim o exige: viver sem o fardo dos laços nem âncoras. Numa cena notável, é com a distância acrescida de um despedimento via video-conferência que Clooney e a sua imatura estagiária mais se apercebem da angústia e fragilidade que a sua acção desencadeia. Como se na virtualidade tivessem um lampejo de realidade...de tão primárias são as emoções retratadas. De resto o filme é também um retrato cínico das virtudes das estratégias de motivação empresarial que querendo envolver, alienam. É um tema com um forte eco no pós sub-prime em que vivemos! As interações que a personagem principal estabelece com as personagens secundárias (bem vincada

Moore Assume-se Guerrilheiro

“Capitalismo, uma história de amor” é, juntamente com “Larry and Me”, o filme mais honesto de Michael Moore. O realizador assume, desta vez, sem pudor o seu engajamento ao invés do papel de falso jornalista. A fronteira da propaganda satírica e informação é bem mais clara do que em Farenheit 9/11, por exemplo. É igualmente o seu filme mais pessoal. Fala com o seu pai e recorda a sua vivência no cenário pós-industrial de Flynt Michigan. O tema é o mesmo que explorou no seu filme inaugural que agora recupera: o declínio e indignidade do trabalho que o desiquilíbrio desregulado forças significou. O liberalismo fundamentalista como inibidor democrático é uma tese que dificilmente deixamos de aderir qualquer que seja a ideologia. E assim a credibilidade da tese que nos traz se aguenta bem melhor do que noutros dos seus filmes. A forma como Moore doseia documento com showbizz é, por vezes, perversa. Não perde legitimidade por isso. Mas as doses massivas de ironia com que o faz intoxicam, por

Copolla no Estoril

Conferência de Imprensa Copolla diz que Tetro é o seu filme mais pessoal. Mas embora as afinidades com a sua vida pessoal e as gerações de criativos que a sua família seja evidente não assumiu ser autobiográfico. Ao contrário da dinâmica familiar de Tetro, na sua família sempre se encorajou a veia artística e a individualidade diz. A família de Tetro, por sua vez, é cruel e castradora. O realizador assumiu ter corrido um risco comercial com a opção das duas línguas e do preto e branco (tal como o inglês e o italiano coexistiam no Padrinho). Gosta da voz do actor na sua língua original. Os americanos são algo intolerantes com as legendas mas algo já mudou a esse respeito na nova geração. Veja-se Crouching Tiger e o sucesso retumbante que teve. Teve também que enfrentar reservas em relação à excentricidade de Vincent Gallo e eventuais dificuldades na colaboração. Entre as suas reputadas excentricidade sabe que vendeu o seu esperma por um milhão de dólares no seu site. Mas tudo correu de

Juliette & Eu

Tinha 15 anos. Num típico isolamento adolescente fui para o quarto ver televisão num sábado à noite enquanto a família estava na sala. Na era do monopólio público da televisão as opções eram escassas. Na Tv2 começava a rubrica “O Filme da Minha Vida”. A convidada da noite era a Catarina Portas. Apresentava “Les Amants du Pont Neuf” (1991) uma paixão que contraiu numa sua estadia em Paris. Lembro-me perfeitamente do efeito que teve sobre mim. Começava negro, com personagens marginais num típico clima existencialista do cinema francês. Naquela noite, tive o primeiro sentido de humanismo e sentido crítico ao ver televisão. Podem achar exagerado, mas foi uma experiência de crescimento. Era um adolescente reservado, taciturno e algo solitário. Foi nos filmes que me senti em comunhão com outras pessoas. As primeiras viagens à minha consciência e densidade fizeram-se com filmes e Binoche teve um papel quase inaugural nesse despertar. No meio de todo a miséria humana e disfunção emocional dos

"Um Profeta" de Jacques Audiard - Filme Assombroso!

Filme assombroso este "Um Profeta"! Combina na perfeição o rigor sociológico com que compõe as suas personagens, a coerente análise da política e esquema de poder que os constrange e a poesia da experiência humana do seu protagonista. É espantosamente credível como o desespero e angústia de ElDjebena (o protagonista) se converte, com as brutais lições de nihilismo a que é sujeito, em táctica e leitura arguta das rachas do sistema. O indivíduo ressocializado e identitariamente massacrado obedece na prisão a uma lógica empedernida de sobrevivência. Mas o nosso anti-herói fá-lo egoisticamente a solo, fungindo ou manipulando as lógicas do jogo(grupo) por perceber a lógica falsamente solidária e implacável que as define (corporizada no arrepiante líder corso Cesar Luciani, magneticamente representado por Niels Arestrup). Tudo isto retratado com uma comovente honestidade! Tem cenas que ficam para a história...o tiroteio em slow motion no confinado espaço de um carro, a atropelament

Dia do Brasil no CinAlfama - Dia 10!

O CinAlfama vai dedicar um dia ao Cinema e Cultura Brasileiras no dia 10 de Janeiro na Adicense (como habitual;) a partir das 19:30. Haverá, para além dos filmes, outras manifestações culturais brasileiras desde a pintura, música, gastronomia... Veja o programa completo em http://cinalfama.blogspot.com/