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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2009

Frost/Nixon - ficcionar para fins dramáticos

Aproveitei a habitual reposição dos melhores filmes de 2008 no King para ver Frost/Nixon. Estava curioso em saber qual tinha sido a estratégia narrativa para tornar dramatizável uma entrevista, por maior que fosse a sua relevância política e mediática. A dita entrevista ocupa 1/3 do filme (percepção pessoal pouco rigorosa, admito). No restante período dedica-se exclusivamente ao raising the stakes . O frívolo e diletante talk show host Frost vê no desafio a Nixon um irreversível passo maior do que a perna que lhe pode custar a carreira e o ex-presidente uma última oportunidade de regenerar historicamente a sua imagem de estadista. Tudo isto num fundo de enorme eco sócio-político que tal momento significaria. Não veria o sempre sensacionalista Ron Howard fazê-lo de forma diferente. Mesmo que o filme se baseie num argumento de Peter Morgan que adaptou para o ecrã a sua peça epónima. Mas quando se fica pelas emoções fáceis de "Mar de Chamas"(1991) ou o sentimentalismo comezinho

Paradise Omeros de Isaac Julien - que surpresa!

Passei esta semana pelo Guggenheim de Bilbao. Fiquei impressionado pela dimensão e escolhas artísticas do museu. Mas houve uma instalação de video de um senhor chamado Isaac Julien que me impressionou imenso! Não mais deixei de pensar no filme e assim que regressei googlei-o furiosamente! O filme de 20 minutos baseia-se num poema épico de Derek Walcot que teve, como o nome indica, inspiração no trabalho de Homero. O filme faz pois a associação da epopeia clássica às marcas emocionais de um percurso de emigração introduzindo uma intrincadíssma sucessão de alusões sóciais e étnicas num fundo de associação de imagens e memórias. Mergulhamos num jogo de mistérios e intriga emocional com associações espontâneas e imagética subconsciente. É uma abstração profunda e sedutora que nos suga e maravilha. Isaac Julien é conhecido por ter desde o início da carreira o desígnio de desconstruir barreiras entre as diversas formas artísticas, conjugando-as ao serviço da narrativa visual. A negritude e

Shotgun Stories e o território emocional

Jeff Nichols traz-nos um olhar independente, sem restricções de economia narrativa, sobre o vazio e prisão emocionais que uma infância estragada traz. Várias cenas impressivas apenas lá estão para dar tom: de realismo e inexpressividade.Os olhos vazios e a vivência desalmada das personagens deste filme são marcantes. Cada uma delas procura um refúgio dum vazio impiedoso; a carrinha; o campo de basket; o lago e a pesca... A história do filme é a de uma disputa familiar. Três filhos negligenciados afrontam no funeral do pai a sua memória de homem bêbedo que os deixou ao arbítrio de uma mãe odiosa. Os filhos de mesmo pai de uma relação posterior insurgem-se, gerando-se uma trágica sucessão de retaliações. As Histórias de Caçadeira são a de uma disputa que evoca o tema western da demarcação territorial. Mas de um território emocional. O da paternidade e da importância da mesma na construção identitária do indivíduo. A auto-noção é um código primário de vida que quando ameaçado e abanado na