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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2009

Música Narrativa - nº4 - Anton Karas e The Third Man

Queria deixar esta rubrica respirar um pouco...mas acabei de ver o filme The Third Man de Carol Reed! Bem sei que a quente tomam-se decisões precipitadas, mas é seguramente já um dos filmes da minha vida. Entre os múltiplos pormenores espantosos do filme (fotografia, argumento, em especial os diálogos...) tenho que destacar a banda sonora. Tal como o filme, este tema apresenta-se gingão mas nem por isso alegre. É esse o tom do filme. É engraçadamente noir , cheio de nuances e sensações contraditórias. A própria personagem de Orson Welles (o terceiro homem) atrai-nos com seu carisma e causa-nos repulsa com seu cinismo (como no fantástico Cuckoo clock speech, adição ao argumento original da sua própria autoria). Foi composto e tocado numa cítara por um vienense chamado Anton Karas descoberto pelo próprio realizador Carol Reed numa incursão noturna pela capital austríaca e foi gravado, por condição do músico, no seu quarto de hotel. A melodia é marcante, fica no ouvido. Até os Beatles, n

Patti Smith - Dream of Life

A biografia de Patti é condensada e despachada nos primeiros minutos e assim se dá o mote do filme libertando-o para a abstracção. A poesia do filme é algo encenada. A própria Patti Smith promove activamente o registo onírico, não é apenas um sujeito passivo que se deixa captar na sua intimidade. A atmosfera de sonho, o Dream of Life, casa muito bem com a poesia da autora que pontua e contribui, declamada ou cantada, para o seu tom. Está bem patente o grau de identificação do realizador com a artista e pessoa. A intimidade da câmara vem daí, do conforto que entre os dois se criou. Steven Sebring capta-a na sua multiplicidade. Patti assume o turbilhão espiritual que a levou de um meio rural e limitado para o mítico Chelsea Hotel em Nova Iorque. Esse turbilhão é deixado à solta numa reminiscência e associações espontâneas com que revisita o seu passado pessoal e musical. Contudo, o seu transe musical nos tempos de hoje pareceu-me algo reciclado. Assim ao documentá-lo o filme perde (visão

Música Narrativa - nº3 - Lennie Niehaus e Clint Eastwood em Unforgiven

Desde o filme Pale Rider (1985) que Clint Eastwood não trabalha com mais ninguém senão o seu colega de tropa, a lenda Jazz de Hollywood Lennie Niehaus. Diz-se de Clint ter um afinadíssmo sentido de ritmo e um excelente ouvido para a música, em particular para melodias simples como este "Claudia's Theme". Parte dessa intuição está nas suas bandas sonoras e a colaboração com Lennie tem sido sensível a esse jeito pessoal . Foi Eastwood que "cantarolou" este minimal e magnífico Claudia's Theme espremido em diferentes registos em looping todo o filme: ora suave e insinuante (com um simples solo de guitarra no início do filme) ora intenso e dramático (com o arranjo mais completo nos créditos finais). O filme traz-nos personagens com cicatrizes demasiado profundas. Um passado demasiado presente para que a vida continue...uma redenção impossível. É um tema de uma tristeza e melancolia comoventes.

Os Filhos de Eisenstein

Certo dia, um amigo com quem conversava sobre cinema, rotulava de “filme de compromisso” a fita Contacto, baseada no romance homónimo de Carl Sagan. Denunciava a análise exageradamente óbvia e polarizada da dialéctica fé/ciência, concretizada nas personagens do padre e da cientista que faria, em espirito de contrição, vergar o seu positivismo científico ao milagre do intangível e divino. Supostamente, o interlocutor veria nesta visão idílica a tradução directa da mediocridade e correcção política da fascizoide (foi a expressão utilizada) sétima arte americana. A delícia de Carl Sagan, era agarrar conceitos que existissem para lá do alcance da ciência. O filme em questão retrata, pelo contrário, a linha estreita e indefinível que separa a ciência da religião e não vejo nele qualquer simplismo ou compromisso ideológico. Estudando numa faculdade de ciências sociais convivi muito tempo com esta vaga de originalismo das elites liberais bem-pensantes que, irredutível, se traduz quase sempr

Convidado de Honra nº 3 - José Soares da Revista Take

Só uma firme paixão e convicção pessoais podem levar uma pessoa a criar de raiz, contando apenas com a sua firmeza, uma revista online de cinema. A Take celebrou em 8 de Fevereiro um ano de existência e vem gradual e solidamente ganhando o seu espaço junto dos leitores cinéfilos online. Hoje, cerca de 10.000 pessoas visitam a Take todos os meses e distribuiu já, na sua curta existência, mais de 1000 convites duplos para o cinema. O seu fundador fala-nos da sua motivação, dificuldades e votos para o futuro. Explique-nos o processo de criação da Take. O que o motivou? Que dificuldades encontrou? A Take surgiu com a intenção de “dar cinema”. Em Setembro de 2007, com a notícia do final da Premiere, senti o impulso e o desejo de não deixar morrer uma publicação sobre esta arte que tantas emoções nos traz. Decidi então criar uma revista com os meios de que dispunha. Juntei uma equipa que partilhava esse ideal e partimos à aventura. Tratava-se de levar às pessoas, gratuitamente, um trabalho f